
Vivemos ouvindo que devemos aprender a dizer não, mas dentro do empreender, isso também se faz necessário?
Ouço histórias de alguns clientes, que relatam como foram suas experiências, ao dizer sim para todas as propostas que lhe apareciam, e com isso, acumulavam tarefas na rotina, muito acima do que se era possível executar, fora que, muitas dessas empreitadas, mais lhe geravam dor de cabeça, que coisas boas.
Mas vamos dizer a verdade, quem realmente tem facilidade em dizer não para algo? Porque eu mesma, não tenho. Sempre fico imaginando, “será que essa não é a oportunidade que eu esperava?”, “poxa, mas essa ideia é tão bacana, não vai me custar nada”, “gosto tanto deste profissional que me fez a proposta, o que custa tentar?” e é justamente por esses pensamentos, que custo a dizer não com firmeza.
Por causa dessa abertura para dizer sim, para praticamente tudo, passei por experiências boas é claro, mas também por muitas outras que me tirou noites de sono e me deixaram com o nível alto de estresse, me perguntando o tempo todo, porque disse sim, ao invés de não.
Pelo medo de perder algo que promete ser uma oportunidade única e memorável, ou simplesmente para mantermos relações de trabalho, acabamos dizendo sim para quase tudo, porém, na maioria das vezes, chegamos ao final da experiência, insatisfeitos, frustrados e cansados.
Sabe aquele senso que temos aqui dentro, de querer fazer parte de tudo, de que não podemos perder tempo e abraçando todas as boas oportunidades? Bom, é justamente aí que mora o perigo, com essa urgência e necessidade de pertencer a algo, entramos em projetos ruins e dizemos sim para quase tudo o que nos aparece, sem analisarmos com calma e tranquilidade.
Desde que comecei a Yoga com a Nath, minha professora e mestre, tento respirar antes de responder a qualquer proposta, porque quando respiramos, oxigenamos o cérebro, organizamos as ideias e damos tempo para nossas próprias emoções, saindo da euforia de ter recebido uma ideia espetacular e entrando na reflexão.
Vou citar um exemplo recente de saber dizer não, que aconteceu com um cliente, sem dizer o nome dele é claro. Há meses estamos trabalhando na estruturação e expansão do seu projeto, ele é uma pessoa centrada, organizada e gosta de ter o alicerce devidamente firme, antes de dar o próximo passo. Mas, na última semana, uma grande empresa, vista como referência no setor, entrou em contato, sondando uma parceria.
Ele então, desenhou meticulosamente uma proposta para essa grande empresa, que agendou de imediato uma reunião, para conversarem sobre o modelo da parceria.
O que aparentemente seria um plano de crescimento maravilhoso, na verdade, se mostrou uma parceria com um contrato em um modelo arcaico, em que apenas a empresa seria beneficiada, sabe aqueles modelos de contrato chamado leonino, em que apenas um lado ganha? Pois, bem! O mercado ainda está cheio deles.
Meu cliente então, tinha que dar uma devolutiva para esta empresa, ele pensou, refletiu, fez cálculos, conversou com a equipe, sondou novos membros e decidiu declinar da proposta.
Dizer este não, exigiu dele um ato de coragem, porque de um lado ele estava tendo uma das maiores oportunidades de rápida expansão do negócio que estava construindo há anos, sua visibilidade seria enorme e facilmente poderia utilizar o fato de ter parceria com essa empresa, como um verdadeiro cartão de visitas para o mercado. Por outro lado, ele perderia a liberdade de atuar, precisaria mudar seu modus operandi para caber neste modelo engessado, ultrapassado e inflexível da outra empresa.
Mas qual foi o sim, do meu cliente nesta história? O sim, para manter o negócio com a sua identidade, propósito e valores. Seu foco, sempre foi proporcionar serviço de qualidade, com atenção e cuidado para o outro e ao dizer não, ele pôde dizer sim, para seus princípios.
A pergunta que fiz no título deste texto, é quantos sins podem existir em um não, e te digo que a quantidade pode ser infinita. Toda vez que dizemos não para algo ou alguém, estamos dizendo diversos sins, para nós mesmos, estamos nos respeitando.
Precisamos nos respeitar mais, nos proteger mais e ter sempre claro o que nos move a fazer o que fazemos do jeito que fazemos, pois, se não tivermos isso claro, parece que toda “oportunidade” que aparece lá fora, é imperdível, gerando uma pressão interna, ansiedade, insegurança, autocobrança e aquele sentimento de que precisa fazer parte daquilo.
Eu mesma, como te disse ali em cima, disse muitos sins, que me deram muita dor de cabeça. Não me arrependo deles, mas sei que poderia ter feito tudo diferente. Essa experiência me ajudou, por exemplo, a escrever agora para você, sobre tudo o que aconteceu e me tirou a ansiedade e a necessidade de pertencer a tudo. Me fez entender melhor o que realmente quero para minha carreira.
Agora tenho colecionado mais nãos, do que sim, porém, sabendo que todo não, automaticamente me gera um sim, posso dizer, que minha vida se encheu de muitos sins.
Quantos nãos você disse neste mês? Nesta semana?